Cap. 243
A oferta da pequena lebre mexe com os desejos e necessidades dos Windigos que, mesmo ressabiados, decidem obter mais informações antes de devorar o animal:
— Onde Ele está?
A lebre responde: — Posso levar vocês até o cervo de pelo avermelhado que conhece o caminho da morada do Grande Espírito.
— E o que você espera ganhar nos ajudando? – questiona outra voz na multidão.
Lebre: — Alguns momentos de vida a mais. É pouco, eu sei, mas é o pouco que me resta.
Os Windigos grunhem uns para os outros tentando decidir até que surge um comando:
— Seguimos a lebre. Depois, pelo menos, comeremos a lebre e um cervo.
Os uivos e urros exprimem a aprovação do grupo que passa a seguir a lebre em direção ao centro do território.
Muitos quilômetros depois, percebendo que seu tempo se esgotara, assim como a paciência de seus acompanhantes, a lebre se aproxima de um grupo de rochas e grita: — Aqui! Acho que é ele.
A lebre pula para atrás das rochas e, do outro lado, surge um grande cervo de pelo vermelhado que pergunta aos Windigos: — O que vocês querem comigo?
O grupo se espalha em volta do cervo e das rochas e alguém pergunta: — Onde está a lebre?
O cervo balança a cabeça e resmunga: — Aquela canalha me usou para distrair vocês e fugir.
— Pelo menos o cervo é maior! – consola outra voz na multidão.
O cervo aceita resignadamente sua condição de presa, mas pede uma última concessão:
— Só me digam por que ela trouxe vocês até mim?
— Ela disse que você sabe como chegar à morada do Grande Espírito. – responde uma boca já aberta para arrancar um pedaço da garganta do animal, que languidamente suspira:
— O pior é que eu sei mesmo.
A multidão se detém, apesar de vários protestos.
— Onde fica a morada? – grita uma voz rouca, cansada e faminta.
Cervo: — Eu não sei onde fica, disse que sei como chegar lá. É só seguirem o grande urso marrom que dorme em uma caverna nas montanhas.
Os Windigos começam a discutir e brigar entre si e só param quando a voz que ecoa em seus estômagos determina:
— Basta!